Bailarosa

Era uma vez uma rosa branca. Ela nasceu por acaso no meio de lírios, como todos sabem, os lírios são bailarinos.

Por isso que na natureza eles são conhecidos como “bailalirios”. De qualquer forma, a rosa branca sonhava durante o dia e de noite se maravilhava com o espetáculo dos seus vizinhos. Seu sonho era dançar como eles, mas eles falavam “Rosas não dançam. Principalmente as brancas!”

Devo dizer que esses comentários deixavam a pequena rosa muito triste. Mas ela não se deixou convencer e todas as noites observava com atenção a dança dos lírios e tentava repetir os movimentos. Uma certa noite, um dos lírios viu a pequena rosa se movimentando e falou “Você não pode se dobrar desse jeito, faz assim, como eu.”. A pequena rosa era só felicidade, finalmente um lírio resolveu lhe ajudar.

Assim, todas as noites ela se aproximava do lírio que a ajudava, não posso dizer que o lírio era carinhoso com ela, porque não era. E por isso a rosa resolveu perguntar “Por que você me ajuda se não acredita em mim?”.

“Porque me doía as pétalas ver você dançando daquele jeito. Mas devo admitir que você está pegando o jeito da coisa.”

A pequena rosa ficou em êxtase com esta observação. Elas continuaram treinando todas as noites. Mas a rosa não praticava só a noite, durante o dia ela fazia exercícios e praticava, enquanto os lírios dormiam ou faziam outras coisas.

Certo dia todos os lírios estavam muito agitados, a rosa perguntou o que estava acontecendo “Em que mundo você vive?”. Perguntou um deles “Daqui uma semana entramos na primavera e temos que fazer o nosso show. Quando começamos o show, os pássaros começam a chegar e dançam com aquele que eles consideram o mais gracioso bailalirio.”

Vendo o olhar perdido e sonhador da pequena rosa, o lírio adicionou uma gota de veneno “Mas você não precisa se preocupar com isso, afinal sua dança é só por diversão. Deve ser bom já saber que os pássaros não vão te escolher, assim você nem fica nervosa.”.

A rosa branca teve um momento de tristeza, um de raiva, um de pena de si mesma seguido de depressão e depois mais raiva. Sua “professora” a viu e em um canto e foi até ela “O que você está fazendo aqui? Temos que treinar a coreografia.”.

“Eu faço parte da coreografia?”. Perguntou a rosa quase sem acreditar nas palavras que saiam da sua boca.

“Você acha que eu sou o tipo de lírio que perde tempo com rosinhas inseguras? Nem precisa responder, eu acho que você treinou muito e tem o direito de participar da coreografia, mas você quem sabe.”.

O lírio estava indo embora quando a rosa foi atrás dele e dizendo que queria muito participar.

A coreografia era mais fácil do que a pequena rosa tinha imaginado, mas é claro que elas tinham que praticar muito até ficar realmente boa. Porém,  para a surpresa da nossa amiga, parecia que só ela achava que os ensaios eram importantes. Os lírios ensaiavam umas ou duas horas e depois iam fazer outras coisas, como arrumar as pétalas e falar sobre como seria excitante se os pássaros voassem com um deles.

A rosa foi atrás da sua “professora”, mas essa também parecia não estar preocupada com a coreografia, pois ela era realmente inquieta com a sua apresentação solo. O motivo pelo qual ela tinha uma apresentação solo, era porque na primavera passada os pássaros a escolheram.

Sendo assim, a rosa praticava sozinha, passava horas e horas ensaiando a coreografia do começo ao fim.

Finalmente o grande dia chegou, todos eram nervosos. Elas começaram a dançar e os pássaros começaram a chegar. A pequena rosa ficou muito surpresa com os erros que os outros bailalirios faziam, mas mesmo assim continuava a sua dança dando o melhor de si. No meio da apresentação elas pararam em pose, era o momento do solo. Pela primeira vez, a rosa não se sentiu inferior a sua “professora”, ou em relação a qualquer  lírios. Não que eles não estavam dançando bem, mas era longe de ser um espetáculo divino.

De qualquer jeito, o solo acabou e elas fizeram a última parte da coreografia, era nessa parte que os pássaros deviam começar a dançar com um deles.

A pequena rosa estava concentrada em não cair, enquanto se equilibrava na ponta de uma de suas folhas, quando viu uma asa perto dela, levantou o olhar e viu os pássaros voando entre elas, mas ela não podia ver em torno de quem “Deve ser alguém perto de mim.”. Ela pensou.

Continuou a dança, faltavam só alguns passos para terminar, no seu último movimento percebeu que os pássaros estavam bem perto dela “Não, não pode ser. Voam perto de mim!”. Ela se sentiu tão esplendorosa que continuou a dançar até depois que a coreografia já tinha terminado.

Porém, pouco a pouco, ela foi parando, ao ver as caras feias dos lírios em torno dela e dos pássaros. Quando eles pararam de dançar um dos lírios se aproximou e disse “Vocês estão loucos? Ela nem é um bailalirio de verdade!”.

“É verdade, ela não é um bailalirio” Disse um dos pássaros “Ela é uma bailarosa.”.

“Não importa o que vocês dizem, ninguém pode nos convencer que essa aí é a que dança melhor.”

“E quem disse que nós escolhemos aquela que dança melhor? Escolhemos aquela que dança com a alma. Pois é isso que faz a diferença. É fácil saber a técnica, é fácil ser naturalmente graciosa, mas só quem dança com alma consegue fazer com que os outros tenham vontade de dançar também.”.

Depois dessa afirmação os pássaros e a pequena rosa branca dançaram e dançaram por muito tempo. E para o desespero dos lírios, depois daquele dia, outras rosas começaram a nascer por ali. Ou melhor, outras bailarosas, pois todas eram delicamente apresentadas a dança pela pequena rosa branca.

Foto-Roberta Forster

9 thoughts on “Bailarosa

  1. Diz a lenda que essa bailarosa nasceu cisne em uma vida passada, mas passou grande parte do tempo achando que era apenas um patinho feio… 😀

    “Gosti” !!!

  2. Marinex! Que conto lindo! Manda pra um livro *-* mUito meigo e… voce tá escrevendo cada vez melhor… com a alma!
    Essa foto… foi a primeira foto que fiz com a minha maquina depois que terminei o curso. Te dei de presente! *-*

Deixe um comentário